Acima da mítica por ser o cineasta mais longevo da história, o português Manoel de Oliveira, prestes a completar 105 anos, é um dos poucos cineastas a concentrar tamanha profusão em uma filmografia completa sobre tanto temas que abordou em seus 54 filmes.
Iniciado no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, em 2008, apresentou uma exposição dedicada ao diretor em comemoração do centenário. Com curadoria de Paula Fernandes, chega ao Instituto Tomie Ohtake em São Paulo.
Sem o intuito de descobrir toda a obra dele, nem atrelar-se a os objetos fetiche dos sets de filmagem e das vestes das personagens, mas sim o processo de formação, da evolução de sua carreira usando-se de trechos de filmes, fotos, documentos e textos do diretor, com direito a uma atualização, pois Manuel de Oliveira fez mais cinco longas de 2008 para cá.
Aniki Bobó |
A exposição também integra a programação da 37° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e é uma homenagem ao amigo de Oliveira e idealizador do festival, Leon Cakoff. ``Alguns diretores têm uma relação muito forte com a Mostra, histórica até. E Manoel é o maior deles. É uma relação que começou a ser construida desde as primeiras mostras, e isso virou uma amizade. O trabalho dele encontrou uma repercussão muito grande no Brasil. E não só aqui, Ele é mundialmente considerado um grande mestre. Ele era um grande amigo de Leon´´, comenta Renata Almeida, viúva de Cakoff e diretora da Mostra.
A impressão de adentrar ao imaginário de Oliveira a mostra abrange desde sua primeira obra Douro, Faina Fluvial (1931), seu primeiro longa de ficção o antológico Aniki-Bobó (1942) até o mais recente trabalho, em 2012 O Conquistador Conquistado, este integrando a 37º Mostra, que começa no dia 18. Consiste um um dos episódios do longa Centro Histórico, que fora produzido com o objetivo de prestar homenagem à cidade de Guimarães, no norte do país, onde nasceu o Reino de Portugal. O longa faz uma copilação de curtas realizados por grandes nomes do cinema como Aki Kaurismaki, Pedro Costa, Viktor Erice e Oliveira.
Acto de Primavera |
Um ponto crucial é a forma como Oliveira nega e ao mesmo tempo afirma o cinema. ``Ele diz que o cinema não existe. Mas isso não significa desprezo pela arte. Uniu documentário à ficção, como respeitou os alicerces do teatro em suas composições e atrelou cânones da literatura portuguesa como Agustina Bessa Luis, que escrevia romances com o intuito de serem adaptados para o cinema por Oliveira; um grande admirador da palavra filmada, seja em discursos das personagens, em letreiros ou em narrações em off.
O Estranho Caso de Angélica |
Ao assistir trechos de obras primas como Aniki-Bobó e O Passado e o Presente, se entende melhor a indendência com que ele trata dos elementos de um filme, tratando-os de forma autôma a luz, a fala e a imagem. Um percurso paralelo da obra do autor e sobre a história do cinema também, devido as diversas descobertas acompanhadas pelo mestre durante tantos anos. Oliveira é o cinema.
Manoel de Oliveira: Uma História do Cinema
Instituto Tomie Ohtake
R. Coropés, 88 - Pinheiros
Terça a Domingo das 11h às 20h
Até 10/11
Dica do Gros Rouge:
Manoel de Oliveira
Ed. Cosac Naify
Organização: Alvaro Machado
240 págs.