quinta-feira, 27 de junho de 2013

Anna Muylaert acerta em crônica urbana




Clara, (Betty Dorgan) uma senhora de classe alta paulistana, preocupada com os bons costumes da burguesia, como lar e família. O anúncio de um sequestro relâmpago, supostamente a sua filha, irá levá-la ao Rio de Janeiro em 12 horas de muita angústia e descobrimentos.

Nascido como um telefilme da TV Cultura, com o nome de Para aceitá-la continue na linha, Chamada a cobrar (2012) é um belo excerto da crônica urbana, a pulsão de descobrimento do avesso das classes, outorgadas a conviverem quase que de propósito.
As doses de realismo das cenas entre Clara e o bandido foram devido ao método de direção de Muylaert, fazendo com que os dois nunca viessem a se ver pessoalmente, unicamente por telefone, na gravação das cenas. Os testes para a escolha de Betty Dorgan incluiram um falso sequestro egendrado pela assistente de Muylaert e depois o teste reconhecimento de Pierre Santos, o suposto sequestrador.


Clarinha responde pelo sequestro, cai no golpe, que virou moda há alguns anos. A solidão de sua alma ambiciona por maiores vôos além do alcance de seus valores estáveis, como deter uma casa luxuosa na zona oeste de São Paulo, dispondo do dia inteiro em mandar e desmandar na empregada. Ou nem tanto assim. Ao decorrer do filme vimos suas três filhas em atitudes repugnantes, senão indiferentes com a situação da mãe. Seu marido, sabemos depois, a abandonou. Indiferença essa nas pessoas que Clara vai encontrando enquanto chega ao Rio, no suposto cativeiro de sua filha.




Aceitar o teatrinho do sequestrador muitas vezes é aceitar inconscientemente os dramas mais profusos da vida em sociedades contemporâneas chatas e submissas. A felicidade somou-se ao aprendizado e reflexão quando a mãe e as filhas se reencontram.
Sociedade essa em que nós vivemos, que em seu cerne duro, traz esse ranço de arrependimento e exaspera por sermos chacoalhados, para não cairmos no cotidiano.




Confira o trailer:


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