domingo, 16 de junho de 2013

O Que Traz Boas Novas emana uma mudança no sistema pedagógico






O filme canadense O que Trás Boas Novas (2011) do diretor Phillippe Falardeau, deveria ser debatido em escolas e faculdades de pedagogia.Não se trata de mais um filme francófilo abordando escolas como Entre os Muros da Escola (2008) e o preconceito.  Bachir Lazhar (Mohamed Fellag), um ``professor´´ imigrante argelino, substituto de uma professora que haveria se suicidado na sala de aula para desepero dos tutores e os pais das crianças. Lazhar não se curva diante da cultura de outro país, o que deve ter confundido os politicamente corretos, ansiosos por mais um filme de superação de culturas e preconceito, o preconceito é tratado plenamente e em segundo plano. O trauma do protagonista, que lutava pelo documento de asilo político, devido aos problemas na Argélia e o assassinato de sua família não são o mote do filme. O suicidio da professora, é o mistério a ser desvendado por Lazhar.




Alice (Sophie Nélisse) tem mãe ausente, Simon ( Émilien Néron) oculta um segredo que o faz ser agressivo,Victor (Vicent Millard) que tem pai vítima da ditadura de Pinochet.
Pouco o que se tornaria uma crítica da conduta arcaica de Lazhar, como o enfileiramento das carteiras, costume medievalista de ensino, críticas para os pais sobre o comportamento dos seus filhos ou tapas de repreensão nos alunos, foi sumariamente repreendido por todo o sistema.
Peremptoriamnte a participação do professor na turma ganha o seu espaço entre todos, com a cobrança por usar em aulas Honoré de Balzac, ou incitar a livre iniciativa de leitura para Alice, por exemplo. Acerca dos traumas das crianças e de seus próprios dá-se a compor o tratamento do regime escolar para descobrir o que aflinge todas essas crianças e a relação com a antiga professora.




O Que Traz Boas Vindas aborda a tendência global de construir educação da criança nas escolas, sob uma forte perspectiva jurídica envolvendo direitos e lesões causadas pelos  tutores. Esses pequenos intocáveis que a sociedade promove, o não direito de tocar na criança, de expor sentimentos na sala de aula, de direcionar uma opinião contrária a conduta familiar dada a criança, fazem-os pequenos traumatizados encarceirados em uma falsa idéia de estado de direitos.
A criança foi usada em muitos filmes esses últimos tempos, como A caça (Thomas Vinterberg), Depois de Lucia (Michel Franco) e Dentro da Casa (François Ozon), todos de 2012. Não é à toa. A discusão sobre educação está deslocando o espaço de formação da criança, para um território de propriedade jurídica dos pais, impondo uma forçosa jaula de proteção, o que nem sempre é indicado para a sua formação e forçosamente desperta uma ditadura do bem estar. A penúria da defesa desses pequenos deuses, centro da vida estrutural familiar ocidental, se degenera em pensá-los como meras crianças. Adentram em si todo o mal que o mundo carrega, como todo o ser humano. O que deve ser feito é deixar se viver.




Baseado na peça Bachir Lazhar de Evelyne de la Chéneliere, concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro de  2011. Levou seis prêmios Genie, o Oscar canadense, inclusive melhor filme, ator, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e montagem.




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