Camille Claudel (1864-1943) é uma escultora oriunda de uma família de artístas. Seu irmão mais novo, Paul, escritor e Louise, musicista.
O filme Camille Claudel 1915 (2013), de Bruno Dumont, relata após o período de dois anos de internação, aos arredores de Avignon, de Camille (Juliette Binoche) após uma crise nervosa gerada pela separação da artísta com Auguste Rodin (1840-1917).
Bruno Dumont certamente bebeu da linha de Robert Bresson para produzir o filme, em uma espiral naturalista própria da inquietude da artísta de meia idade. Sem artifícios de sonoplastia contrastando mais a profusão da loucura pelos internos.
A sutileza de Dumont se dá a questão da fé diante de infernos criados por nós mesmos, o que distancia da versão de Bruno Nuytten, de 1988. Camille interna no manicômio, com principios claros de paranóia, adentra a fé como válvula de escape. A loucura é o inferno e a redenção da artísta, isto fica bem claro nas reações mais diversas que levam Camille a absorver esse mundo de loucura, como seu novo estado natural.
O ápice do filme é o relato de conquista de fé adquirido por Paul Claudel (Jean Luc Vicent) ao padre. A partir da leitura de Rimbaud, ele descobriu a fé por vias totalmente narcisistas, como se Deus fosse grato pelo seu novo fiel. Com a roupagem cientificista, Paul adquire a fé sem necessariamente acreditar em providências ou mesmo na figura de Deus em sua vida. No período que se trata do último respiro entre literatura e ciência, sua dialética pelo arcabouço da ciência, não permite que Camille, após o diagnóstico do médico do manicômio, em levá-la para a sua casa e viver novamente entre os homens.
Há uma certa ditadura no ramo da ciência roubada pelas artes em almejar uma arte interina racional. A loucura de Vicent Van Gogh se transformar em arte era impensável naquela situação em que se racionalizava a estética e na figura da fé, a íntima filosofia do eu, por muitas vezes associado a loucura, fazendo Camille ser excluída do meio artístico.
Ao contrário do longa, em sua biografia Paul Claudel se arrependeu de interná-la durante três décadas e o desenvolvimento de esquizofrenia durante esse tempo. Foi um dos maiores divulgadores da escultura de Camille, depois da morte da artísta.
Camille Claudel 1915
Bruno Dumont
França, 2013
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