Inicialmente como tese de doutorado em Literatura Brasileira na FFLCH-USP, Walter Garcia em Melancolias, Mercadorias, abrange o cancionário da música popular brasileira em ganhos que perpassaram desde o pregão de rua dos idos da nossa antiga República até aos novos tempos e dialética com a crônica contemporânea urbana as canções Preta do Acarajé, de Dorival Caymmi e Carioca, de Chico Buarque.
Escritor de obras capitais como Bim Bom (1999) e o polêmico João Gilberto (2012), que deu uma série de problemas judiciais com o cantor, que não queria que o livro fosse circulado.
O pregão de rua, especificamente em Salvador toma a primeira parte do livro. Com passado colonial, após a abolição da escravatura, a população se pautou no comércio de rua para a sobrevivência, o que ocorria já com os escravos de ganhos e as famosas quituteiras baianas. O pregão popular possibilitou um diferencial na criação da música evocatica com o intuito de chamar a atenção do comprador e de uma poética muito próxima da canção popular, facilmente entendida pela população e com uma naturalidade que todos posteriormente irão usar na escanção de suas músicas. Nasce daí uma ideia vaga de vendedores informais, a criação de verdadeiras peças de publicidade na época, ou nos tempos mais próximos, os famosos jingles dos anos 50.
Delas ficaram imortalizadas como Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, quituteira de mão cheia e mãe de santo das ruas de Salvador, ao mudar para o Rio de Janeiro foi uma das pioneiras do samba no nascimento das primeiras favelas. Ela concebeu o primeiro samba da história em sua casa, o maior reduto dos sambistas da época; Pelo Telefone, atribuído a Donga e Mauro de Almeida.
Em meio a esse momento nasce, em 1939, A Preta do Acarajé, de Dorival Caymmi e Carmen Miranda (atribui-se uma possível participação de Dalva de Oliveira na canção, na época, desconhecida).
Garcia toma como eixo propostas de Sérgio Buarque de Holanda e o conceito da cordialidade e o panorama de Gilberto Freire em Casa Grande Senzala onde se pauta a lógica pós escravista de mercado e suas adaptações a novos horizontes da economia, com uma crescente produção do café e a primeira leva de imigrantes contracenando aos ex-escravos marginalizados e sem trabalho.
A pesquisa acerca da melancolia contida nas canções de Caymmi, a sua fama de preguiçoso e a lógica de mercado das suas músicas e da ascensão da rádio são elucidadas de forma a entender também peculiaridades do compositor.
Garcia toma como eixo propostas de Sérgio Buarque de Holanda e o conceito da cordialidade e o panorama de Gilberto Freire em Casa Grande Senzala onde se pauta a lógica pós escravista de mercado e suas adaptações a novos horizontes da economia, com uma crescente produção do café e a primeira leva de imigrantes contracenando aos ex-escravos marginalizados e sem trabalho.
A pesquisa acerca da melancolia contida nas canções de Caymmi, a sua fama de preguiçoso e a lógica de mercado das suas músicas e da ascensão da rádio são elucidadas de forma a entender também peculiaridades do compositor.
Carioca ocupa um lugar no imaginário da crônica urbana, da terceira Revolução Industrial. Sem se atrelar ao passado de Chico em suas primeiras canções, nem ao seu cunho de protesto, a estética de Chico se perpetua na frase de Fernando de Barros e Silva. ``[Chico] Faz como escrevesse a história duas vezes, nos revelando o que somos e aquilo que não nos tornamos´´.
Garcia traz a crônica de Noel Rosa, o sambista típico da crônica urbana juntamente a popularização do gênero textual, muito pelo acesso aos jornais e a alfabetização. É sem dúvida um reforço a cultura oral tamanhos expoentes como Rubem Braga e Sérgio Porto e Adoniran Barbosa.
A idealização da Bossa Nova inexiste em um Rio cerceado de drogas, prostituição, as novas canções populares, como evoca Chico ``Hoje tem baile funk´´, o poente do sol já se transforma em uma mítica resvalada em mistério e receio, tenta acima de tudo ter uma poética cordial, fechando o ciclo evocando novamente Sérgio Buarque, pois jamais o político-social apresentará um traço definitivo de caráter nacional. Por isso o brasileiro deve aprender a conviver para sobreviver. Carioca tente a inércia sobre os valores utópicos que cada vez se encontram menos em sua concretude, de um Rio que convive com o valor arquétipo do pregão de manhã, mas dá espaços a novos valores que não aqueles que um dia foram seus, mas que impõem respeito em sua magnetude de novos costumes que virão e aos que já estão e nós nos negamos a aceitar enxergar.
Melancolias, Mercadorias
Dorival Caymmi, Chico Buarque, o Pregão de Rua e a Canção Popular-Comercial no Brasil
267 pág.
Walter Garcia
Ateliê Editorial
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