
A trama que todos conhecem, se situa em uma Espanha arcaica da década de 20. Carmencita é fruto de um casal de artístas renomados, filha de um toureiro famoso, Antonio Villalta (Daniel Gimenez Cacho) e a cantora Carmen de Triana (Imna Cuesta), cujo acidente de Antonio em uma tourada, muda o futuro da família. Carmen morre ao gerar sua filha, Carmencita.
A madrasta Encarna (Maribel Verdú), então a enfermeira que cuidou de Antonio e se apoderou da influência do toureiro para galgar seu espaço nas colunas socias dos jornais, edificando seu individualismo e seu desejo de poder sobre todos.
Carmencita não pode se acolher com Dona Concha (Angela Molina), sua avó por muito tempo, pois morre de infarto. Não restava saida a não ser ir ao lar da madrasta, que foi submetida a tratamentos inexequíveis.
Isso não impediu Carmencita de explorar a casa e descobrir a figura frágil de seu pai, preso a uma cadeira de rodas, que por um curto espaço de tempo, a ensinou a tourear e alimentou os anseios de ambos reconstituírem uma família novamente.
A madrasta mata Antonio e Carmencita, agora já mais velha, esta em um bosque muito longe.
Ao ser salva por anões, estes também toureiros artístas intinerantes, acolhem-a e ganham espaço e fama devido as qualidades na tourada de Carmen, que perde a memória e seu nome. Assim perpetua-se como sucessora do posto de toureiro do Pai, mas morre tragicamente ao comer a famosa maçã envenenada.
O jogo de fotografias impressiona, assim como a exploração do elemento antropofágico ao ideal dos Grimm a cultura espanhola cinematográfica. O uso arguto de elementos oníricos do cinema mudo, traz a essência do cinema que perdemos na infância, quando acreditávamos na verdade das câmeras.
O filme se desprende do protecionismo a criança e figura a maldade como algo inerênte ao ser humano. O público recaiu sobre Berger pois ele matou os touros para rodar o longa e usou-se dos artificios da tourada como as lanças e as bandeirinhas. A demagogia de querer distorcer a verdade da vida, tiraria o brilho do filme. A tragédia sobre a protagonista deve ser encenada, assim como a política da tourada, que é a tragédia espanhola. Como O Sol Também se Leventa (1926), de Ernest Hemingway se pauta nas touradas para evocar o vazio do pós guerra e a classe burguesa americana.
O touro talvez seja um sutil jogo metafórico de Branca de Neve, que luta contra um destíno trágico e inevitável, sem ser recompensado pela morte, apenas aproveitado pela sociedade do espetáculo e seus povo caricato e ignorante. Assim morrem todos os artístas.
Diferentemente do pastiche ingênuo de O Artista (2012) e a dita renovação do universo fantástico que o cinema proporcionava, tão deteriorada com o advento das séries televisivas, que proporcionam melhor acomodação em formação de uma trama complexa que o cinema. A crise cinematográfica, muito bem definida por Fernando Meirelles; ``As séries estão para o romance assim como o cinema está para o conto´´, meio que profetiza o fim da magia que o cinema trazia antigamente.
Berger em seu filme homenageia brilhantemente o cinema, e não somente o cinema mudo. Evoca claramente na exploração de câmeras próximas a redenção sobre o destino, em uma profundidade dramática que Carl Theodor Dreyer, usou em A Paixão de Joana D´arc (1928) e a deformação dos anões e a patuleia consumidora de arte barata, usado por Tod Browning em Monstros (1932).
O que causou furor foi que Berger não se usou somente de elementos estéticos da finesse do cinema mudo. As cenas de movimentos, os cortes de câmera e a dinâmica de exploração de espaço são influência direta de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles. Até Pepe, o galo de Carmencita, a Branca de Neve quando criança, trás consigo as cenas dos becos das favelas e os golpes modernos de câmera que começam a criar frutos no cinema mundial.
Branca de Neve (Blancanieves)
Produção: Espanha/ França/Bélgica, 2012
Direção: Pablo Berger
Dica Gros Rouge:
Contos Maravilhosos Infantis e Domésticos
Irmãos Grimm
Cosac Naify
Ilustrações:J. Borges
Tradução:Christine Rohrig
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