quinta-feira, 4 de julho de 2013

Platonismo artesanal






A trama é simples no filme Espuma dos Dias (2013), do cultuado diretor francês Michel Gondry. Colin (Romain Duris), o dândi vida boa, e sua amada Chloé (Audrey Tautou), a pura, vivem um amor impossível. O romance homônimo do surrealista e trompetista Boris Vian, serve de base para o seu artifício cinematográfico, que torna Gondry próximo a  criação de Georges Méliès.
Gondry, também conhecido no meio musical por dirigir nomes como Bjork, Radiohead e The White Stripes, não foi mais ameno por se tratar de um romance de Vian. Foi arguto em fazer a sua mise en scène, de forma tão orgânica, contrapondo os efeitos barulhentos de Hollywood. Fez o ritmo frenético do jazz que inspirou a prosa de Vian, com a era tecnológica, dos dias atuais.
``Queria criar um mundo igual ao de hoje, mas pensando que as coisas seguiram outra direção a partir dos anos 40, um mundo paralelo´´, diz Gondry sobre seu filme.



Um filme que não poupa o espectador pelo barroco de imagens, principalmente se tiver que acompanhar os rápidos jogos de cenas e ler as legendas. Mas nada estraga o vigor de Espuma dos Dias. Não se deve ver o filme taxando-o de bobo, tem uma singulariedade e inocência que aproximam o espectador do cinema antigo, o chamado laboratório dos sonhos. Voltamos a crer na realidade do filme, mesmo mais absurda que seja, Gondry já te conquistou.



O grupo dos solteirões, Colin, Nicolas (Omar Sy), e o tiete intelectual de um Jean Sol-Partre (nem suspeitamos de quem seja) Chick (Gad Elmaleh), são solteirões boa vida, que enfim conseguiram achar suas garotas. Apaixonado no primeiro encontro, Colin se casa com a cândida Chloé, e se casa em uma suntuosa volúpia de cores e cortes de imagens e colagens coloridas, todo o platonismo artesanal de Gondry ao amor de Colin por Chloé. Mas tarde Chloé descobre que aloja-se em seu peito uma flor de Lótus e ela fica gradativamente doente. A espiral da decadência se inicia. A casa, antes dotada de magia e invenções, acaba por esfacelar-se em cores, assim como a do grupos de amigos. A doença de Chloé leva Colin a falência e começa a trabalhar em condições estapafurdias, como adubo para uma plantação de metralhadoras. Claro que o livro foi escrito no contexto do pós-guerra, mas o paralelo com a crise europeia atual, torna o filme com pulsão contemporânea.




Engraçado é unir atores como Omar Sy (Os Intocáveis), Audrey Tautou (Amélie Poulain) e Romain Duris ( A Datilógrafa). Todos eles cerceados por filmes cuja inocência, marcaram pelo apelo do politicamente correto e do fantástico desse novo cinema de sucesso francês, para justificar debates sobre o preconceito, morte e crise econômica. Com um elenco múlti étnico composta por europeus, árabes e negros convivendo pacificamente, sem nenhum ranço de preconceito. Essa parte do filme ficou dúbia, mesmo o filme tendo uma intenção de ser fofo. Será uma tendência do cinema francês ou do mundo inteiro?
Mesmo assumindo um discernimento das obras e tudo mais, o filme é uma possível sequência de O Faubuloso Destino de Amélie Poulain (isso opinião pessoal).


Dica Gros Rouge:


A Espuma dos Dias 
Boris Vian
Cosac Naify
256 pg.
Tradução de Paulo Werneck

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