quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A Estrada da Redenção





Las Acácias (2010), de Pablo Giorgelli, filme independente, pequeno no elenco, roteiro mínimo, mas de tamanha profusão humana, levou o prêmio Cámera d´Or no Festival de Cannes. Em cartaz agora no Brasil.
Um filme corajoso pela dificuldade de se mimetizar ao naturalismo e a redenção. Giorgelli queria um caminhoneiro comum para fazer Ruben (German de Silva), mas tinha necessidade de fazer cenas mais intensas, onde a carga emocional devia ser transmitida ao longa. Para fazer Jacinta, Giorgelli usou uma atriz amadora, Hebe Duarte, a mãe paraguaia que busca vida melhor em Buenos Aires, que leva um bebê de colo. Na verdade foram usados três bebês para o filme. 



Nos anos 90, o pai de Giorgelli fica doente e ele, sem razão alguma, se distanciou da família, largou a mulher com quem vivia na época e perdeu o emprego. Entrou em uma espiral de desespero e angústia. Isso foi ao mesmo tempo a redenção de Giorgelli, aproximando da família, sonhando com o pai que poderia ser. Daí nascera o embrião de Las Acácias.``Tinha necessidade de proteção. Queria, desesperadamente, que alguém tomasse conta de mim. Ninguém pode cuidar de você para sempre, você tem de se cuidar, valorizar´´, diz Giorgelli.




A estrada é a metáfora da vida desse road-movie de construção de personagens. A imposição de ambiente tão opressor e solitário como uma cabine de caminhão, leva ao descaso com tempo, mas arguta o pensamento sobre a vida e quem deixamos atrás desses mais de mil quilômetros de viajem. Rúben constrói um enigmático personagem, onde leva um passado tortuoso de uma paternidade não vivenciada, onde os sentimentos vivem à deriva do desejo e recusa.
Giorgelli explora campos em que a dependência mútua das personagens vai crescendo ao decorrer da viajem. 



A descoberta do próximo e a assimilação sobre o indizível, o silêncio que os une; talvez pelo medo de se expor, do próprio medo da violência, more algo que mostre o valor que os dois tem por estar aqui viajando. 
Todos tem problemas. Não se sabe porque Jacinta saiu do Paraguai, pois ela afirma que não há pai da pequena Anahi. Por aventura de uma bisbilhotice, Jacinta descobre o paradeiro do passado de Ruben, um suposto caminhoneiro sem família que leva a carga de acácias para Buenos Aires. Na fotografia descoberta, Ruben, um pai cativo, presenteando seu filho uma bicicleta. 
As acácias cortadas, que geram o motivo da viajem de ambos, são as esperanças cortadas pelo caminho opressor da vida. Na estrada se constrói uma relação em cima das ruínas, contornando uma relação que sai da aspereza e estranhamento para se tornarem únicos na viagem. Sem prévios julgamentos, tão frágeis sozinhos, tão condizentes juntos. 




Las Acácias 
Argentina/Espanha, 2011
Pablo Giorgelli



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