segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Memória e esquecimento





Estreia na Pinacoteca a exposição Fortuna, a qual abrange uma retrospectiva da obra de William Kentridge. São Paulo abriga a maior mosta do artista sul-africano, onde explora meandros de sua carreira em quase 300 obras (filmes, desenhos, gravuras, esculturas e instalações entre 1989 e 2012.

Judeu de ascendência lituana nascido em Johannesburgo em 1955, Kendrigde notabilizou-se por seus desenhos filmados - ou filmes desenhados - expostos na Bienal de Veneza, no museu do Jeu de Paume, em Paris, e no MoMA, em Nova York. A reentrância da memória e do esquecimento, de inscrição e apagamento tomam forma de animações do autor, onde o Kentrigde diz, ``a animação é um modo de tentar tornar visível essa invisível passagem do tempo´´.


A animação ``História da Queixa Principal´´


``Filmar permitia que ele acompanhasse esse projeto invisível de visões e revisões do trabalho - de todas as hesitações e alterações, todos os apagamentos e acréscimos nos desenhos´´, diz a curadora Lilian Tone. ``Mais tarde, ele percebeu que os filmes eram, na verdade, a obra em si´´. 

Os destaques vão para A Recusa do Tempo. A videoinstalação, onde foi exibida primeiramente na última Documenta Kassel. Usa-se de uma sinfonia na qual abrangem diversos aspectos da obra de Kentridge, onde a recriação plástica de questões da ciência, o resgate de elementos relativos ao teatro e a encenação de performances e a denúncia política. Grande instalação com 5 canais de vídeos incluindo um complexo panorama de som que ocupará a área do octógono da Pinacoteca, onde inclui 4 megafones de aço e o ``elefante´´, uma máquina-objeto concebido por Kentridge que parece respirar. A obra depois irá para o MoMA.

A Recusa do Tempo surgiu de uma série de conversas entre Kentrigde e o historiador de ciências Peter Galison sobre questões incluindo a história do controle do tempo universal, buracos negros, controle do tempo universal, relatividade, teoria das cordas cósmicas. Kentridge tenta metaforizar as ideias onde torna-as palatáveis e sinestésicas ao espectador.

Felix in The Exile de Drawings for Projection, 1994

A exposição também pode conferir todos os dez filmes da série 
Drawings for Projections, acompanhados por 23 desenhos que o artista executou ao preparar os filmes. Kentridge descreve Drawings for Projections como ``cinema da idade da pedra´´, devido as alterações artesanais dos quadros, sobrepondo em um único desenho, realizado em carvão ou pastel. Apaga, adiciona, subtrai, acumula, redesenha. A intervenção do artísta não somente se manifesta na percepção da obra, como se incorpora à imagem. As suas marcas brutas, nos desenhos revelam sutilezas nos traçados e linhas delicadas, onde aos poucos vão se tranformando em outras imagens. 
Kentridge se apodera veementemente com objetos do cotidiano, como objetos banais encotrados em seu estúdio como um pote de café ou uma tesoura. 

Kentridge deixa claro sua intenção performática em seu estúdio, que vira seu palco, fundindo como seu personagem. Palco esse onde ocorre  manifestações, intervenções de obras, mistura de linguagens e alegorias que envolvem os diferentes gêneros de seu trabalho, da arte e da literatura, onde passa por elementos reais, referências atuais de lugares e memórias sociais como o Apartheid.





Como não fui Ministro d´Estado, de 2012, onde Kentridge fez autorretos sobre as páginas de Memórias
Póstumas de Brás Cubas



William Kentridge: Fortuna
Pinacoteca do Estado
Praça da Luz, 2, Bom Retiro - São Paulo
R$6 (grátis menores de dez anos, maiores de 60, quinta após as 17h e aos sábados)

Nenhum comentário:

Postar um comentário